As Histórias de Sucesso dos Trompetes Xeno
Um Legado de Paixão que Transcende o Tempo e o Espaço - A História do Desenvolvimento dos Trompetes da Série Xeno
Capítulo Dois: O Distanciamento dos Ideais de Schilke
Em 1977, a Yamaha abriu sua primeira loja de instrumentos de sopro, o Ateliê Tóquio, em Ginza, um centro em termos de performance musical. Kawasaki, que havia retornado ao Japão após dois anos de treinamento na Schilke Music Products nos Estados Unidos, foi nomeado o primeiro gerente-chefe do ateliê.
Enquanto Kawasaki estava centrado em atender às necessidades dos músicos no Japão e no exterior através do ateliê, Hiroo Okabe, que entrou na Yamaha em 1974 e mais tarde se tornaria Diretor e Gerente Executivo, estava envolvido com o setor de design na sede da Yamaha. Okabe, que se tornou o encarregado do design de trompetes durante seu quarto ano na Yamaha, era um devoto de trompetes de uma marca tradicional desde seu tempo de faculdade, e tinha o desejo de criar instrumentos musicais que seriam tão amados pelos músicos quanto os instrumentos dessa marca tradicional eram.
Além desta marca ser uma fabricante de trompetes de alta qualidade com sede nos Estados Unidos, ela também é a escolha de muitos dos melhores artistas no ramo musical. Sua forma de construir trompetes diferia em quase tudo do modelo de construção idealizado por Schilke, modelo no qual a Yamaha baseava seus projetos. As diferenças iam desde a espessura do latão e o comprimento do leadpipe, até à presença de chumbo na pompa principal. Na verdade, a insatisfação de Schilke com os trompetes comercializados na época, incluindo os desta marca, foi o que o levou a abrir sua própria empresa. Isso explica as diferenças entre os ideais dessa marca e os de Schilke.
Quando o ainda jovem Okabe foi encarregado de redesenhar um modelo que estava em processo de adequação desde sua criação inicial, ele propôs uma série de mudanças estruturais por meio da pesquisa extensiva que realizou tendo como base instrumentos já bem estabelecidos. Por exemplo, Schilke enfatizava o tom acima de tudo, razão pela qual os produtos Yamaha não utilizavam suportes até aquele momento. Ainda assim, Otake sugeriu a adoção destes. “Naquela época, os músicos eram mais atraídos pelos belos e indescritíveis timbres dos produtos dessa marca do pela precisão dos tons, e eles queriam instrumentos musicais com os quais pudessem se sentir confortáveis em confiar. Nesse caso, nós precisávamos mostrar aos músicos que nós entendíamos suas necessidades ao criar o tipo de produto que eles desejavam”, relembra Okabe, explicando sua linha de pensamento na ocasião.
Okabe estava tentando se afastar do ideal de Schilke que a Yamaha preservara tão diligentemente, enquanto Kawasaki aprendera tudo o que sabia sobre design de trompete com o próprio Schilke. Era inevitável que os dois entrassem em conflito. No entanto, Kawasaki, que tinha ouvido feedback direto de músicos no ateliê que ocasionalmente incluía severas críticas, começou a aceitar as ideias de Okabe gradualmente, ao passo que ele começou a entender que muitos músicos realmente queriam instrumentos mais parecidos aos produtos daquela marca. Ainda que parecesse uma traição a Schilke, eles sabiam que precisariam ouvir seus clientes para fazer com que os trompetes da Yamaha alcançassem novos patamares de qualidade. Quanto mais o tempo passava, mais Kawasaki entendia que essa era uma necessidade real.
Em 1980, o primeiro protótipo concebido “após o idealismo de Schilke” estava completo, e Kawasaki e Okabe se dirigiram aos Estados Unidos para que os artistas de lá avaliassem seu novo produto. O protótipo foi imensamente elogiado pelos artistas, que se mostraram muito contentes com os novos rumos que a Yamaha estava tomando.
Kawasaki tentou informar a Schilke sobre o desenvolvimento de novos modelos criados com base nas novas ideias de Okabe por muitas vezes, mas devido às lesões que Schilke sofrera na época e outros imprevistos, suas agendas nunca se alinharam e Kawasaki nunca teve a oportunidade de encontrar-se com Schilke e contar-lhe as novidades pessoalmente. Contudo, é possível que Schilke tenha ouvido a notícia por meio de um dos artistas americanos que testaram o protótipo tais como Adolph Herseth, trompete principal da Orquestra Sinfônica de Chicago, ou Armando Ghitalla, trompete principal da Orquestra Sinfônica de Boston. De tempos em tempos, Schilke dizia a Kawasaki e Okabe “Não retrocedam”. As palavras de Schilke traziam a mensagem implícita de que eles não deveriam se tornar mais uma empresa antiquada.
Por motivos de força maior Schilke se viu obrigado a usar uma cadeira de rodas em seus últimos anos de vida, o que não o impediu de continuar a visitar o Japão e oferecer seus conselhos até 1981, um ano antes de seu falecimento. Ele provavelmente tinha suas reservas em relação aos novos rumos que a Yamaha estava tomando, que cada vez mais se distanciavam de seus próprios ideais, o que gerava conflitos ocasionais entre ele e o então jovem Okabe, cuja devoção ao outro instrumento era clara. Contudo, independente da presença dominante de Schilke na Yamaha, Okabe se manteve firme em suas próprias convicções e nunca deixou de apresentar suas ideias. Hiroaki Imaoka, que presenciou a interação entre essas duas figuras de perto, insiste que “ainda que eles tivessem posicionamentos diferentes, ambos compartilhavam o mesmo objetivo de avançar rumo a novos patamares”. Imaoka ainda acredita de que a evolução dos trompetes Yamaha foi influenciada pela paixão de ambos.
Em 1982, os novos trompetes do tipo Custom criados pós-Schilke foram lançados. Além da adoção da campana em peça única*1, todos os novos modelos apresentavam alterações de design em componentes-chave que tratavam de problemas de longa data e melhoravam a qualidade geral de forma expressiva.
Após se formar em uma faculdade de música, Imaoka começou a trabalhar na Yamaha e ingressou na seção de design em 1980, o que significa que Okabe e ele foram os responsáveis pela primeira maior ação da empresa em reconfigurar seus modelos de trompete. "A característica mais marcante dos modelos do tipo pós-Schilke era a adição de um único suporte", explicou ele. Este suporte deu aos instrumentos o som suave e claro que muitos esperavam. "Até aquele ponto, mesmo que os músicos escolhessem a Yamaha para a aquisição de seu primeiro instrumento, eles frequentemente decidiam comprar uma outra marca depois de haverem progredido, mas acredito que isso começou a mudar lentamente com a introdução dos novos modelos", continuou Imaoka.